sábado, 30 de outubro de 2010

DA ALUMINA AO ALUMÍNIO

A refinação exige enormes quantidades de energia (mais do que qualquer outro processo industrial) devido a forte ligação entre o oxigênio e o alumínio na alumina. Os átomos de oxigênio são atraídos por ânodos de carbono, e o alumínio fundido fica depositado no fundo de cubas.

Essa é a fase mais poluente, resultando em emissões atmosféricas e outros resíduos: fluoreto de hidrogênio gasoso e fluoretos particulados, monóxido de carbono, alumina, dióxido de enxofre, entre outros. Os ânodos produzem grandes quantidades de PAHs (hidrocarbonetos aromáticos), incluindo o carcinógeno conhecido como benzo[a]pireno -associado ao câncer de bexiga nos trabalhadores.  


As concentrações de fluoretos no ar afetam florestas, pastos, animais. Em mamíferos a contaminação assume a forma de fluorose dentária, esquelética ou sistemática (atrofia óssea, manchas marrons nos dentes e perda de dentes). O fluoreto de hidrogênio pode causar danos respiratórios e anormalidades no sistema nervoso. O dióxido de enxofre irrita o trato respiratório, causa lesões agudas nas folhas das plantas, produz chuva, neblina e fumaça ácidas.

DA BAUXITA À ALUMINA

O minério de bauxita é triturado e dissolvido em soda cáustica (hidróxido de sódio) sob alta temperatura e pressão.  O óxido de ferro, o titânio, o sódio, a sílica e outros são removidos por filtração, originando um resíduo chamado “lama vermelha”.

A solução é limpa e vai para um tanque para cristalização do hidróxido de alumínio; os cristais resultantes são lavados e desidratados à vácuo e direcionados para um forno. O resultado é um pó fino, branco, chamado alumina (óxido de alumínio).

A lama vermelha é altamente cáustica, com pH acima de 13. Ela é despejada em áreas já mineradas. Além de penetrar no lençol freático e nos córregos, eleva o teor de sódio dos poços artesianos vizinhos. Outros impactos da refinação da alumina: poluição do ar com gases aerossóis cáusticos e poeiras corrosivas. Além disso, a queima de óleos com alto teor de enxofre libera gases ácidos, dióxido e trióxido de enxofre, levando à chuva ácida.


Lagoa de disposição de lama vermelha da Alumar – Ilha de São Luís – Maranhão. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-70762007000200011&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em:  18  out.  2010.  



EXTRAÇÃO DA BAUXITA PARA PRODUÇÃO DO ALUMÍNIO PRIMÁRIO

O minério de bauxita contém de 45% a 60% de óxido de alumínio; são necessárias de 4 a 5 toneladas de bauxita para produzir 2 toneladas de alumina que, refinada, produz 1 tonelada de alumínio primário.

Extraída em minas abertas, exige a remoção da vegetação e da camada superior do solo, produzindo efeitos nocivos sobre a fauna e a flora. A extração da bauxita é uma das principais causas da destruição da Floresta Tropical no mundo. As florestas não podem ser restauradas à sua biodiversidade anterior após a suspensão da mineração. O solo perde sua capacidade de reter água, tornando-se inadequado para o cultivo.


 A conversão da bauxita em alumínio primário é o processo  industrial que mais consome energia no mundo, contribuindo para o aquecimento global.

Fonte: SWITKES, Glenn Ross. Impactos ambientais e sociais da cadeia produtiva de alumínio na Amazônia: ferramentas para os trabalhadores, as comunidades e os ativistas. Internacional Rivers, 2005. Disponível em: http://www.internationalrivers.org/files/Foiling2005_po.pdf.


Remoção da vegetação, do solo orgânico e das camadas superficiais do solo (argilas e lateritas). Fonte: http://www.abal.org.br/aluminio/producao_alupri.asp


FLUXO DA CADEIA DE PRODUÇÃO DO ALUMÍNIO PRIMÁRIO

http://www.abal.org.br/aluminio/producao_alupri.asp

A lata de alumínio foi introduzida no mercado americano em 1963, trazendo um novo conceito de embalagens para bebidas, ao reunir simplicidade e praticidade num só produto. Mas surpreendeu o próprio mercado com muitas outras vantagens - da reciclabilidade à economia de energia e de espaço no transporte e armazenagem, até a redução de perdas, em relação a outros materiais como o vidro. O resultado é que mais de 70% das cervejas e refrigerantes produzidos nos Estados Unidos hoje são envasados em latas de alumínio, um hábito que se estendeu a outros países como Japão, Austrália, Suécia e Itália.
No Brasil, a lata de alumínio chegou em 1989, graças à produção interna da chapa nas especificações para o produto e à vinda de empresas detentoras da tecnologia de fabricação. Hoje, 95% das bebidas vendidas em lata no país utilizam a embalagem de alumínio.


 

OBJETOS

Os objetos são mediadores de nossa relação com o ambiente que nos cerca. Eles são documentos, pois contam a nossa trajetória no mundo. Museus, lojas, armários, gavetas só existem porque o homem criou uma infinidade de utensílios – nossa civilização caracteriza-se “[...] pela fabricação dos elementos que nos cercam.” (MOLES, 1972, p. 9).                        
Segundo Molles (1972), o objeto pode ser definido como algo que está fora de nós e pode ser percebido com os sentidos; não é natural, mas fabricado pelo homem; é independente e móvel (no sentido de transportável); no que diz respeito às suas dimensões, o objeto está em uma escala inferior a do homem e por ele pode ser manipulado.
Hoje, conseguimos conhecer e estudar as sociedades primitivas que, ao contrário das que vieram posteriormente não deixaram documentos escritos, através dos objetos que produziram. E quanto a nós? Que tipo de vestígios materiais estamos deixando para as futuras gerações? 
" Desfazendo a idéia, herdada desde a Revolução Francesa, com origens na Grécia Clássica, de que o patrimônio está ligado ao conceito de belo, simétrico, perfeito e ao qual se atribui algum valor [...], como produto das atividades humanas, o lixo passa a ser nomeado patrimônio cultural, que será herdado pelas gerações futuras." O lixo pode ser entendido como um "documento não-intencional", mas que, conforme Le Goff, "são monumentos, obras que mudam a paisagem e narram a história cotidiana de uma sociedade." (VALDUGA; OLIVEIRA, 2010). 

Referências:
MOLES. Abraham A. Semiologia dos objetos. Petrópolis: Vozes, 1972. p. 9-87
VALDUGA, Vânia; OLIVEIRA, Lizete Dias de. Patrimônio: o Lixo. In: Jornadas Mercosul: memória, ambiente e patrimônio, 2010, Canoas. Pôster.